Os códigos da Torah

16/06/2015 21:09
 
Em 1982, Avraham Oren, Professor de programação de computação que residia no Kibutz Sde Eliyahu, em Israel, percebeu uma anomalia no início do terceiro livro da Torá, Levítico.  Oren estudava a Torá durante muitos anos, e, talvez, por causa de seu trabalho na área de programação, ele tinha uma intuição especial para os padrões. Algo no trecho de abertura em Levítico (Lev. 1-1: 13) chamou sua atenção.
 
A passagem descreve os sacrifícios realizados pelos Cohanim, mas não menciona em ponto algum Aaron, o primeiro Cohen Gadol e progenitor de todos os Cohanim. Quando o nome  “Aaron” é mencionado no trecho, sempre o é em referência a alguém: “os filhos de Aaron”, por exemplo. Oren levanta a hipótese: “Trata-se de uma passagem em que Aaron deveria ser mencionado várias vezes. Contudo, ele não é mencionado abertamente no texto – nenhuma vez. Será possível que seu nome somente apareça no trecho de forma oculta?
 
Oren começou a pesquisar a passagem em busca do nome “Aaron” (composto por Alef, Hei, Reish e Nun) onde este aparecesse escrito com letras em intervalos eqüidistantes1. Seus resultados confirmaram suas suspeitas. Ele não apenas encontrou, nesse trecho, o nome “Aaron” escrita em seqüências equidistantes de letras (em inglês, equidistant lettersequences - ELSs), mas o encontrou 10 vezes! Como estudioso das Ciências Exatas, ele sabia que de acordo com a Teoria das Probabilidades, pode-se esperar encontrar em um texto hebraico daquele tamanho uma ou algumas vezes a palavra “Aaron” escrita como ELSs. Mas, 10 vezes ?? Seria aquilo um número inesperadamente grande de ocorrências? Oren não tinha suficiente conhecimento matemático para responder sozinho aquela pergunta. Portanto, levou a dúvida a um amigo, o Prof. Eliyahu Rips, do Instituto de Matemática da Universidade Hebraica de Jerusalém.
 
O Prof. Rips, que escapara da Lituânia sob domínio soviético e viera a Israel como um ateu, é tido em alta consideração por alguns dos mais proeminentes matemáticos do mundo. Rips é um teórico de grupo de classe mundial – um domínio esotérico que está na linha de frente tanto da Matemática Pura quanto da Física Teórica.
 
Oren partilhou suas descobertas com o Prof. Rips, que levou o trecho do Levítico e deu a um colega para o digitalizar. Rodaram então um programa para encontrar no trecho todas as ELSs com o nome “Aaron”. Assim, assegurariam não apenas que os achados de Oren estavam corretos, mas também encontrariam alguma que lhe tivesse escapado. Quando o Prof. Rips recebeu os resultados, ele ficou boquiaberto com o número de vezes em que aparecia a palavra Aaron. Eram 25, e não apenas 10, como encontrara Oren. No trecho de 716 letras, há 55 Alefs, 91 Heis, 55 Reishse 47 Nuns. No caso de uma distribuição randômica dessas letras, um estatístico esperaria deparar-se com 8 encontros ELS da palavra Aaron. A probabilidade de que o nome “Aaron” aparecesse coincidentemente 25 vezes é de cerca de 1 em 400 mil vezes. Isto significa que é quase certo de que o nome do primeiro Cohen Gadol foi deliberadamente criptografado no trecho de abertura do terceiro livro da Torá, que descreve o serviço dos sacrifícios realizados pelos Cohanim.
O Prof. Daniel Michaelson, um perito nos códigos da Torá e ex-professor de Matemática na conceituada Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), observou que um lingüista da língua hebraica poderia contestar os resultados do “código de Aaron” demonstrando que na Bíblia judaica as quatro letras que formam a palavra Aaron – Alef, Hei, Reish e Nun – são correlacionadas entre si. Isto significa que num texto bíblico, essas quatro letras aparecem juntas mais vezes do que se imagina. Talvez isso explique por que a palavra Aaron apareceu codificada tantas vezes no trecho de abertura do Livro de Levítico. Assim sendo, para garantir que o código de Aaron tivesse significado genuinamente estatístico, realizou-se outro experimento. Todas as 24 permutações possíveis com as quatro letras hebraicas que formam a palavra Aaron foram identificadas e contadas. Se o fenômeno se deveu à correlação entre as letras, poder-se-ia esperar encontrar, nesse mesmo trecho, muitas outras combinações dessas quatro letras, em intervalos equidistantes de letras. A experiência foi realizada e os resultados foram ainda mais surpreendentes. Foi apenas o nome de Aaron que surgiu 25 vezes. As outras permutações, tais como Hei, Reish, Nun,Alef, apareceram entre 5 e 11 vezes – bem dentro do que era esperado, estatisticamente. Ao que tudo indica, apenas o nome de Aaron – e não as combinações das letras que compõem o seu nome – foram codificadas nesse trecho da Torá. A probabilidade de que esse fenômeno tenha sido uma coincidência, e não deliberadamente criptografado no texto, é ínfima. Se, através de busca randômica, quiséssemos encontrar outro trecho de tamanho comparável, contendo 25 ocorrências de uma palavra que fosse encontrada apenas 8 vezes em sequências equidistantes de letras, a pessoa teria que procurar cerca de 400 mil páginas de texto.
 
O código de Aaron estimulou o Prof. Rips – ateu declarado que, na época, só acreditava em números – a pesquisar se o fenômeno dos códigos da Torá era autêntico. Portanto, rodou o código de Aaron em um texto hebraico selecionado arbitrariamente, não obtendo resultados estatísticos significativos. Ele, então, submeteu o código a um teste de fogo: digitou no computador o trecho do Levítico 1:1-13 tirado da Torá dos Samaritanos, e repetiu a experiência.
 
Os samaritanos viveram em Eretz Israel há milênios, e, apesar de não serem judeus, adotaram a sua Torá. Mas, como careciam de uma tradição de escribas tão rigorosa como a dos judeus, sua Torá nunca foi tão precisa como a nossa. Há cerca de 6.000 diferenças entre as letras da Torá dos samaritanos (que também é escrita em hebraico) e a nossa, autêntica. Os samaritanos acreditavam que as letras exatas da Torá tinham pouca importância se comparadas ao significado das palavras e, portanto, há palavras adicionais, palavras que faltam, e formas alternadas de grifar as palavras em sua Torá. Mas o conteúdo da Torá Samaritana e da nossa Torá é praticamente idêntico; as diferenças residem na forma de sua grafia. Quando o Prof. Rips testou o código de Aaron na mesma porção do Levítico da Torá Samaritana, não encontrou resultados significativos. Não havia código de Aaron em um texto muito semelhante à nossa própria Torá.
 
O Prof. Rips buscou outros códigos na Torá. Ele levantou a hipótese de que outros códigos significativos poderiam estar agrupados em torno da aparência explícita dessas mesmas palavras nos Cinco Livros de Moshé. Sua hipótese foi comprovada: ele descobriu uma enorme quantidade desses códigos na Torá. Exemplificando: um trecho no início do Livro de Gênese que discorre sobre o Jardim do Éden (Gênese 2: 4-17). O número de letras nesse trecho é de 657. O número esperado de vezes em que “Éden” deveria aparecer nessa passagem, em intervalos equidistantes de letras, é 13,6. Prof. Rips encontrou a palavra “Éden” codificada 20 vezes nesse trecho. As chances disto ser uma coincidência são de 1 em 1000.
 
O Prof. Rips e um número crescente de pessoas que ficaram intrigados com os resultados encontraram uma quantidade enorme de códigos nos quais a palavra que representava o tema de um trecho (tal como “Éden” na descrição do Jardim) encontrou eco em um cluster gigantesco de ocorrências codificadas da mesma palavra naquele trecho. A probabilidade matemática de que esses códigos fossem coincidência era extremamente pequena. Uma amostragem desses resultados foi publicada pelo Prof. Daniel Michaelson (o professor da UCLA acima mencionado), anteriormente um auto-declarado ateu, que inicialmente via o fenômeno dos códigos da Torá com grande ceticismo, mas que posteriormente viu que a evidência era muito óbvia e poderosa para ser descartada. Ele ficou convencido de que os códigos eram uma realidade, e ele e o Prof. Rips viraram judeus praticantes.
Outros famosos cientistas também se juntaram à pesquisa do Prof. Rips sobre os códigos da Torá. Um deles foi Doron Witztum, um aluno de Física, em Israel, que acabara de terminar sua tese de mestrado sobre a relatividade geral. Witztum tornou-se um dos mais destacados pesquisadores sobre códigos da Torá no mundo, evidenciando sua validade. Outro pesquisador a juntar-se à equipe de pesquisa sobre o intrigante tema foi um brilhante jovem cientista da computação, Yoav Rosenberg, que tinha formação em técnicas matemáticas avançadas que lhe foram úteis para diferenciar códigos estatisticamente significativos, de interessantes padrões de palavras que pareciam estar criptografados, mas que eram meras coincidências.
 
Os cientistas que investigavam o fenômeno dos códigos da Torá empregavam métodos cada vez mais sofisticados para certificar-se de que o fenômeno era verdadeiro. Suas constatações foram ainda mais dramáticas: as probabilidades de que os códigos desvendados fossem todos uma enorme coincidência eram astronômicas. Era possível – eles se perguntavam – que esses códigos, esses grupamentos de palavras separados a distâncias mínimas, fossem encontrados em outros textos hebraicos? Eles realizaram testes em outros textos, mas os códigos pareciam ser restritos à Torá...
Até então, os códigos encontrados eram um fenômeno puramente estatístico – fascinantes, mas sem significado extraordinário. Os códigos confirmavam o que o judaísmo sempre defendera: que cada letra da Torá tinha sua importância – de que há um propósito para a existência e o lugar onde é colocada cada uma delas. Mas, o que mais significavam esses códigos, e o que transmitiam? Que a Torá foi escrita por um Codificador Supremo? Será que um cluster com o nome de Aaron num trecho sobre ele teria sido colocado nesse lugar por um autor humano extraordinário, que fosse, ao mesmo tempo, um gênio matemático? Certamente, um fenômeno interessante, mas nada mais do que isso.
 
O nome “Aaron” foi encontrado no trecho de abertura do Livro de Levítico, mas Aaron e seu irmão Moshé foram os líderes da geração de judeus que receberam a Torá. Talvez Moshé tenha sido um Mestre Codificador e tenha criptografado o nome de seu querido irmão no trecho de abertura do Livro que discorre sobre o serviço dos Cohanim.
 
Mas, e se os códigos encontrados na Torá transmitissem informações altamente específicas sobre pessoas que viveram não quando a Torá foi recebida, mas sobre as que viveriam centenas e milhares de anos mais tarde? E se a Ciência, operando de acordo a padrões estritos de evidências demonstrassem que quem quer que tenha escrito a Torá tinha conhecimento não apenas sobre as pessoas que viveram na geração de Moshé e Aaron, mas também informações precisas sobre a vida de grandes Sábios judeus que somente viveram milênios após a Torá ter sido escrita?
O surgimento dos códigos da Torá
 
No artigo desta edição, “A Matriz do Universo”, vimos que a Torá não é meramente a essência do judaísmo, mas a própria planta da Criação – o Código de todos os códigos. Citamos nossos livros sagrados, bem como os Sábios e os Cabalistas, que revelam que as letras da Torá contêm informações criptografadas, e fornecemos um exemplo simplificado, através do “Código Israel” encontrado no texto do Kidush, de como um código pode ser desvendado por meio de sequências equidistantes de letras.
 
Mas, antes do advento dos computadores e de sofisticadas ferramentas matemáticas, a idéia de que a Torá é a planta da Criação tinha que ser aceita somente pela fé. Sempre foi possível provar que a Torá tem origem Divina, mas, sem as ferramentas apropriadas, não há como provar que seja a matriz de toda a existência. Talvez seja por isso que o fenômeno dos códigos da Torá tenha sido mencionado apenas de passagem pelos comentaristas judeus da Idade Média.
 
Este tópico se popularizou após a 2a. Guerra Mundial, devido ao empenho do Rabi Chaim Michael Dov Weissmandl (1903-1957), sobrevivente húngaro do Holocausto, que foi instrumental para retardar ao máximo a deportação dos judeus da Eslováquia, durante a guerra.
 
Prodígio tanto no Talmud quanto na Matemática, o Rabi Weissmandl empacou numa referência a um código, encontrado no Livro de Gênese, que fora mencionado por Rabenu Bachya, um de nossos maiores Sábios, que viveu no século 13. Rabenu Bachya descreveu um método de pular intervalos iguais de letras para desvendar informações divinamente ordenadas que estavam embutidas dentro da Torá. O método de saltar um número idêntico de letras em um texto para descobrir informações criptografadas – códigos conhecidos como seqüências equidistantes de letras – é descrito no artigo “A Matriz do Universo”.
 
Seguindo as pistas deixadas por Rabenu Bachya, o Rabi Weissmandl empreendeu sua própria investigação do fenômeno dos códigos da Torá e ficou convencido de que era um fenômeno real. Quando a guerra terminou, o Rabi Weissmandl emigrou para os Estados Unidos, onde continuou a desvendar as informações que foram criptografadas nas letras da Torá. Ele e seus alunos detectaram padrões interessantes de palavras codificadas em seqüências de intervalos de letras. Mas, buscar manualmente informações codificadas seria um trabalho extremamente laborioso. Ademais, mesmo quando eles se deparavam com algo que parecia significativo, eles não conseguiam provar que não se tratava de simples coincidência – um padrão de palavras que se poderia encontrar em qualquer texto. O Rabino encontrou muitos exemplos de padrões fascinantes na Torá e se convenceu de que o fenômeno era real. Mas, faltavam-lhe as ferramentas para o provar.